No Mercado Antônio Franco, em Aracaju – Sergipe, é possível encontrar uma diversidade de produtos e se encantar com tudo que ali é oferecido, com destaque para o artesanato que atrai várias pessoas do mundo inteiro. São produtos para todos os gostos e todos os bolsos, desde um simples chaveirinho, até as famosas rendas irlandesas.
Dentro desse leque cultural e de produtos que um mercado pode oferecer, inclui-se a Dona Maria Izabel Oliveira. Com 65 anos, nasceu e foi criada em Aracaju, e há 16 anos, todos os dias, ela pega o ônibus e se dirige até Mercado Antônio Franco para confeccionar e comercializar bonecas de pano.
DO BECO DOS COCOS AO MERCADO
Aos dez anos de idade teve início a vida de comerciante da dona Maria Izabel. Ela começou a vender beiju no antigo Bêco dos Cocos, passagem que liga a Rua Santa Rosa à Praça General Valadão, no Centro de Aracaju. Ela conta que era levada todos os dias por uma senhora chamada Lourdes, e o lucro que tinha era pra ajudar a mãe nas despesas de casa.
“O bêco dos cocos era uma feira. A noite eu trabalhava também, eu ia descascar coco com minha mãe pra essa senhora, a gente descascava coco a noite toda, era muito coco”.
Algum tempo depois, dona Maria passou a vender beiju na frente do mercado, em seguida foi convidada para trabalhar em um local onde vendia bolos. Ela casou e, junto com o marido, conseguiu adquirir duas bancas no mercado. Tornou-se mãe e todos os dias trabalhava junto com o marido. O casamento não deu certo e dona Maria se divorciou. Com a separação, criou os filhos através dos produtos que vendia.
“Depois que o marido me deixou corri para comercializar na Praça da Bandeira, no Bairro Santo Antônio e no Orlando Dantas, fui fazer ponto porque a gente tinha duas bancas aqui no mercado, mas depois da separação fiquei sem nenhuma, ai fui também para as feiras livres, coloquei meu cesto no braço e fui vender comidas típicas”.
PRESENTE DO FILHO
Dona Maria ficou doente e sem condições de trabalhar, seu filho lhe presenteou com um box no novo Mercado Antônio Franco, ela começou a confeccionar bordados e bonecas de pano. “Depois fiquei um pouco doente e não pude mais andar nas feiras livres, meu filho comprou essa loja e eu passei a vender artesanato fazer minhas bonequinhas, passei a trabalhar com coisa que nunca pensei, me achei no bordado e na confecção das bonecas, minha tia trabalhava com renda e eu nunca me interessei em aprender, talvez se eu tivesse aprendido quando era criança eu estaria ganhando um dinheiro bom, porque a renda irlandesa da gente é a renda mais cara que tem, e na época minha tia fazia aqueles bicos, tudo bem trabalhado e eu nunca me liguei, eu era muito menina na época”, disse.
CONFECÇÃO DE BONECAS
Dona Maria aprendeu a fazer boneca com a tia quando ainda era criança, diante da necessidade de gerar renda para continuar vivendo ela resolveu confeccionar as peças e vender, era algo que lhe rendia lucro e a matéria prima não custava caro.
“Eu cortava papel de caderno junto com minha tia e desse papel passava pro pano cru. Comecei a refazer isso e deu certo, costurava tudo na mão porque não tinha máquina, depois minha mão começou a doer ai e tive que dar um jeito de comprar uma maquinazinha velha, e uso o resto de pano velho pra encher”, explicou.
Dona Maria segue confeccionando suas bonecas e conquistando sempre mais clientes, são bonecas totalmente feitas com tecido e preenchidas com retalhos dos tecidos que sobram dos cortes que ela faz. A boneca grande custa R$10,00 e a pequena R$4,00. Seus clientes geralmente são adultos e idosos que querem presentear alguma criança com um brinquedo diferente, ou querem recordar como eram os brinquedos do passado, quando ainda não existia tanta tecnologia.
Para a comerciante o mercado e as bonecas são seu meio de vida, ela se orgulha do que faz, e diz que não se ver mais sem praticar essa atividade. “Não me vejo sem comercializar porque é o meu ganha pão, é dele que eu vivo, daqui do mercado, através dos meu bordados e das minhas bonecas é que ganho meu “tostão”, as vezes não vendo meu bordado, mas vendo minhas bonecas. Todos os dias estou aqui fazendo boneca, primeiro leio a palavra de Deus, e depois fico fazendo boneca até as 17h, de domingo a domingo”, finalizou.
* Reportagem – Caroline Prata
* Fotos – Anna Guimarães